segunda-feira, 29 de abril de 2019

VAIDOSOS E BAJULADORES

O mundo político sempre foi lugar controlado por gente vaidosa e densamente povoado por bajuladores. 

Existem bajuladores, também conhecidos como “puxa-sacos”, de toda ordem. Mas, em geral, são pessoas que apresentam certa dificuldade para conquistar espaço e destaque por meio da competência. Então a bajulação a lideranças, políticas em especial, se torna um substituto relativamente eficiente para galgar espaço e algum status social. Na dificuldade para se destacar pelas próprias capacidades, vincular-se a alguém com projeção e que, de lambuja, pode ajudar o bajulador a ter sua própria visibilidade, aparece como boa estratégia de sobrevivência, inclusive profissional.

Na outra ponta, claro, estão as figuras de destaque. Políticos, empresários, gente famosa e que ocupa alguma posição de prestígio. Especialmente no mundo político, trata-se também de pessoas bastante vaidosas na maioria das vezes. E a combinação entre egos superdimensionados e bajulação sistemática geralmente não produz bons frutos. O casamento entre vaidade e “puxa-saquismo” tende a ser combustível para a incompetência.

Temos, então, de um lado os bajuladores, que dependem das migalhas do poder alheio para sobreviver social, política ou economicamente – ou ambos. De outro, temos as pessoas vaidosas, que adoram bajuladores. Junte-se à equação o fato de que, em geral, bajuladores são incompetentes e você terá uma fórmula que, se não é infalível, tem grande capacidade de retratar a realidade: líderes vaidosos têm tendência a se cercar de gente incompetente.

Embora mais tarde a Igreja Católica tenha juntado a ela a soberba, Tomás de Aquino tomou a vaidade não apenas como um dos pecados capitais; ele a tomou como um pecado especial, de destaque entre os demais. Entre os motivos para isso está o efeito que ela possui sobre a capacidade de percepção da realidade por parte da pessoa vaidosa.

O vaidoso não é apenas alguém incapaz de fazer autocrítica. Ele também tem grande dificuldade para compreender e aceitar a crítica vinda de outras pessoas. Por isso, assim como ama o espelho porque reflete apenas a própria imagem, o vaidoso também ama as pessoas que lhe dizem apenas aquilo que ele gosta de ouvir, aquilo que reforça sua própria ideia de si mesmo, alimentando sua vaidade.

Do ponto de vista dos bajuladores, dizer aquilo que seu “ídolo” gosta de ouvir e que reforça suas convicções sobre o mundo e tudo o que existe nele, passa a ser um investimento. Quanto mais ele faz isso, maior a probabilidade de conseguir os favores de que precisa para compensar o fato de ser incapaz de conquistar as coisas por seus próprios méritos. Sob vários aspectos é um casamento perfeito para as duas partes.

Vivemos em um mundo onde a vaidade é cada vez mais incentivada, valorizada e até mesmo “exigida” socialmente. Uma cultura de supervalorização do “eu”, da subjetividade, do ego. Um dos efeitos disso é justamente o surgimento de gerações inteiras de pessoas cada vez mais vaidosas, apaixonadas pela própria imagem, com ideias superdimensionadas de si mesmas e incapazes de se perceber como iguais aos outros. A vaidade deixou de ser um pecado para tornar-se um estilo de vida, uma exigência no mundo contemporâneo.

Com uma sociedade feita de indivíduos cada vez mais vaidosos, aumenta o “mercado” dos bajuladores, pois temos cada vez mais lideranças de todo tipo ansiosas por incompetentes que dediquem a vida a lhes agradar, dizendo o que querem ouvir e fazendo de tudo para alimentar a imagem distorcida que possuem de si mesmos. E quanto mais o “mercado” de bajuladores cresce, mais espaço é dado à incompetência, especialmente no mundo político.

O resultado de tudo isso? Uma olhada em nossas instituições, do escritório da esquina aos palácios de Brasília, pode dar um bom quadro da situação.

quarta-feira, 24 de abril de 2019

LIBERAIS CONSERVADORES?


“Liberal na economia, conservador nos costumes”. Assim se definem o atual presidente, membros de sua equipe de governo e boa parte dos seus eleitores.

À primeira vista pode parecer algo interessante, uma versão tupiniquim do liberalismo, mais uma de tantas adaptações (ou seria empobrecimento?) de ideias e conceitos que fazemos há 500 anos. O problema é que a expressão não faz sentido, não se sustenta. É conceitualmente equivocada e historicamente estapafúrdia.

O liberalismo se consolida como teoria política entre o final do século XVIII e início do XIX. Fruto do pensamento moderno e do iluminismo, tem como elemento central o indivíduo enquanto agente racional, cuja liberdade é um direito inalienável que cabe ao Estado assegurar e promover.

A liberdade individual como primeiro, maior e mais fundamental dos direitos. Eis o elemento estruturante do pensamento liberal, que surge iminentemente como teoria política, não como teoria econômica (a “versão econômica” do liberalismo é posterior, e trataremos dela em outro texto). Liberdade de pensamento e ação, de expressão, de decisão sobre sua própria vida. Liberdade, do indivíduo racional, para decidir o modo de viver sua própria vida e o que fazer com ela, assumindo a responsabilidade por tais decisões.

É por isso que o liberalismo, especialmente em sua concepção clássica, preocupa-se também com a questão da igualdade, especialmente a “igualdade no ponto de partida” ou, como costumamos dizer, igualdade de condições. O pressuposto básico, aqui, é de que o exercício pleno da liberdade só é factível por indivíduos autônomos, racionais e suficientemente esclarecidos sobre as possibilidades que o mundo lhes dá para decidir como viver suas vidas.

Igualdade no ponto de partida implica, entre outras coisas, educação universal e de qualidade. Sim, países e governos liberais têm na educação seu elemento estruturante. O uso autônomo da razão para exercer a liberdade só é possível quando os indivíduos têm acesso ao conhecimento socialmente produzido, especialmente o conhecimento científico.

A igualdade, portanto, não é incompatível com os ideais do liberalismo. Ao contrário, ela é sua condição fundamental. Apenas indivíduos iguais, em condições e perante a lei, podem de fato ser livres. A teoria liberal é, nesse sentido, uma teoria moderna, e tem na emancipação do indivíduo, portanto, seu princípio fundamental.

É por isso, por exemplo, que na Europa ser liberal significa ser de esquerda. Os conservadores são, grosso modo, de direita. Também pelos mesmos motivos o Partido Democrata, nos EUA, por defender os princípios da liberdade de costumes e comportamento e por primar por políticas mais igualitárias, é de esquerda.

Ora, ser “conservador nos costumes” pode ser qualquer coisa, menos liberal. Pois o liberalismo é, acima de tudo, uma teoria que propõe justamente a radicalização da liberdade no que diz respeito aos costumes e ao comportamento como condição para a liberdade política plena.

É apenas na segunda metade do século XX, portanto muito recentemente, que uma (re) leitura muito pobre e seletiva do liberalismo, de vertente economicista, irá abrir mão do ideário político de emancipação do indivíduo em nome da ideia de livre mercado com Estado mínimo. Surge, então, o neoliberalismo de que tanto se fala atualmente. Ele é a aplicação, pobre e bastante simplista, de alguns princípios do liberalismo ao campo da economia.

Ser “liberal na economia” é, em grande medida, ser neoliberal. É assumir a tese de que os indivíduos, deixados “livres” para atuarem no mercado e assumirem, sozinhos, a responsabilidade pelo sucesso individual, produzem ganhos coletivos que resultam em um bem socialmente generalizado.

Embora tenha várias ressalvas a essa tese neoliberal, minha questão, aqui, não é debatê-la. O que soa estranho aos ouvidos é a confusão conceitual necessária para juntar liberalismo e conservadorismo na mesma afirmação.

Bandeiras como a liberdade de comportamento, o combate ao moralismo, liberdade sexual, autonomia para decidir o que fazer com a própria vida e o próprio corpo, são a essência do liberalismo. Ser “conservador” em tais questões não é apenas incompatível com o ideário liberal; é também sua negação, seu oposto.

Por mais que vivamos épocas em que o rigor conceitual é cada vez mais negligenciado em nome da subjetivação das interpretações, ainda defendo a existência de certos limites para a “mixagem” de teorias e modelos interpretativos do mundo e da sociedade. E a junção de liberalismo político com conservadorismo demanda uma reengenharia teórico-conceitual que pode até dar sentido ao casamento entre formulações neoliberais e convicções religiosas, mas não faz nenhum sentido no campo do pensamento político.

terça-feira, 9 de abril de 2019

EM DEFESA DA UNIVERSIDADE

As universidades públicas no Brasil, especialmente as federais, estão sob ataque. Parte da sociedade, influenciada por mentiras (sim, é isso que as fake news são), por movimentos tanto orquestrados quanto mal intencionados cujo objetivo último é eliminar o pensamento crítico e autônomo, vê na ciência e no seu ensino algo inútil, desnecessário e até mesmo ameaçador.

Para piorar o quadro o próprio governo federal, sentindo-se ameaçado pelo livre pensamento e pelo uso da razão, alimenta o discurso nada desinteressado centrado em uma imagem falsa das universidades, como se essas fossem centros de reprodução em massa do socialismo, porque vê nelas instituições capazes de desmistificar o simplismo que seus apoiadores insistem em imputar ao mundo, à sociedade e aos seus problemas.

Basta um rápido olhar sobre os motivos e as intenções que orientam os ataques às universidades para deduzir (sem desconsiderar que “deduzir” é um processo racional, portanto algo em declínio em nossa sociedade) que nunca precisamos tanto delas como agora.

As universidades federais não pertencem a um governo. Elas são instituições do Estado Brasileiro. Portanto, pertencem ao povo brasileiro, e desempenham papel absolutamente fundamental na produção e disseminação de conhecimentos sem os quais nenhuma sociedade será capaz de se desenvolver e melhorar a vida dos seus cidadãos. Seu papel não é reproduzir as convicções ideológicas, as visões de mundo e as crenças religiosas do governo de plantão; é produzir e disseminar conhecimento científico, ensinar a pensar, proporcionar autonomia de pensamento, democratizar o acesso crítico à informação.

Em tempos onde a redes sociais edificam visões de mundo maniqueístas, simplistas e superficiais, cabe à ciência o papel de desvendar a complexidade dos fenômenos, de propor formas alternativas de perceber e explicar o mundo, de promover a busca organizada e metódica pelo conhecimento.

Não se trata de afirmar que exista uma verdade definitiva sobre as coisas, mas de assumir o compromisso de pensar o mundo com rigor, critério, método e responsabilidade. Esse é o compromisso das universidades ao formar pessoas e ensiná-las a compreender, por si mesmas, o lugar e o tempo onde vivem.

É historicamente recorrente o fato de governos autoritários atacarem as universidades, os professores, os intelectuais, os artistas. É da natureza desses regimes o combate ao livre pensamento. Mas é da natureza das universidades resistir ao autoritarismo, à censura e à imposição de ideologias contrárias à diversidade de costumes, de ideias e de formas de pensar e viver.

Eis, aí, a essência do paradoxo: quanto mais o simplismo e a mediocridade atacam a ciência e as universidades, mais isso precisa ser compreendido como indicador de que a sociedade precisa de ciência e de universidades. Os raciocínios maniqueístas que opõem bem e mal, certo e errado, liberal e comunista, são típicos de uma cultura da ignorância, da preguiça mental e do ódio ao pensamento. Essa cultura nutre o desprezo pelo debate e pelo raciocínio detalhado, e prega o ataque a qualquer um que ouse apontar para a complexidade dos fenômenos.

Pelo simples fato de pensar e de ensinarem a pensar, as universidades e seus profissionais se tornaram, de repente, alvo da mediocridade que vê no pensamento divergente algo a ser destruído, aniquilado. Assim, os medíocres concebem um mundo onde só existem duas opções possíveis: ou se concorda com eles, ou se é inimigo deles. E como para os medíocres os “inimigos” devem ser destruídos porque representam o mal que ameaça seu pretenso monopólio sobre a representação dos interesses dos “homens de bem”, a violência surge como meio justificado de disseminação de sua ideologia.

É nesse cenário que as universidades têm papel de absoluta centralidade. Elas são vanguarda do pensamento livre, do entendimento profundo da sociedade e de seus dilemas. A diversidade de ideias é sua espinha dorsal, e o respeito à pluralidade de interpretações o seu coração pulsante.

Defender as universidades e aquilo que elas representam é, hoje, mais do que uma opção política. É assumir o compromisso de preservar uma das instituições mais fundamentais da sociedade contemporânea, sem a qual estaremos condenados ao mundo do simplismo, do maniqueísmo e da mediocridade generalizada.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

"PROFECIAS AUTORREALIZÁVEIS" E AS TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO

Há um ditado popular bastante conhecido no interior catarinense, onde cresci: "para quem acredita que no mato só existe porco, até as árvores roncam". Ele contém um preceito sociológico poderoso, formulado em meados do século XX pelo sociólogo Robert Merton.


Merton foi quem cunhou o conceito de "profecias autorrealizáveis" para explicar os processos pelos quais uma crença, mesmo originalmente falsa, pode modificar a realidade para tornar-se verdadeira a partir do impacto que exerce sobre os comportamentos humanos.


Ele estudou o comportamento das pessoas em sua corrida aos bancos quando se deparavam com alguma notícia dando conta de que a instituição financeira passava por algum tipo de dificuldade. Quando uma notícia, mesmo que falsa, dava conta de que um determinado banco estava em apuros, isso fazia com que os correntistas o procurassem para sacar seus investimentos. Essa procura em massa pela retirada do dinheiro acabava por colocar, de fato, o banco em apuros, inclusive levando-o, em muitos casos, à falência.


Nas palavras de Merton, "a profecia autorrealizável é, no início, uma definição falsa da situação, que suscita um novo comportamento e assim faz com que a concepção originalmente falsa se torne verdadeira" (MERTON, Robert K  (1968). Social Theory and Social Structure. New York: Free Press. p. 477. ISBN 978002911304 – (tradução livre).


Imaginemos que Willian Bonner, em uma edição qualquer do Jornal Nacional, anunciasse que o banco "X" está com sérias dificuldades e há risco de falência. Não importa se a notícia seria verdadeira ou falsa. Em 48 horas esse banco estaria, de fato, falido, pois todos os seus correntistas entrariam em uma corrida desesperada para sacar seu dinheiro. A "profecia", nesse caso, teria a capacidade de realizar a si mesma na medida em que conseguiria induzir certo comportamento capaz de materializá-la.


A questão, portanto, é que uma crença, quando incorporada de tal modo a servir de referência para o comportamento, acaba por gerar um "viés de confirmação" (o termo e seu significado, infelizmente, são pouco e pobremente debatidos no âmbito da metodologia científica, mas isso é questão para outro texto) que leva à sua própria realização, mesmo sendo originalmente falsa. Isso ocorre porque tendemos a perceber e explicar o mundo a partir de nossas crenças e convicções prévias. Tendemos a projetar sobre o mundo características que desejamos que ele tenha, ou que receamos muito que ele possua. Ou, dito de outro modo, tendemos a ver no mundo aquilo que mais desejamos e aquilo que mais tememos, além de projetarmos sobre ele características que, no fundo, nos definem.


É por isso, por exemplo, que em geral mentirosos têm dificuldade para confiar nos outros, pois eles projetam nas pessoas com as quais convivem características que são suas (mentir). Do mesmo modo, conspiradores tendem a ser também paranoicos, pois veem em tudo conspiração contra si mesmos; fofoqueiros constantemente acreditam que são alvo de fofocas; autoritários identificam autoritarismo no comportamento alheio; depravados sexuais passam a vida censurando os outros...


Esse "viés de confirmação" está na base te todas as teorias da conspiração. Elas se tornaram populares na segunda metade do século XX, especialmente em função da Guerra Fria, embora estivessem, claro, na base de justificação do massacre dos judeus pelo nazismo.


Com o fim da II Guerra Mundial, os inimigos não tinham mais uma identidade claramente definível. Então começam a proliferar teorias de que grupos e nações agiam secretamente para dominar o mundo. Para o pensamento de esquerda, havia uma conspiração internacional do capital para cooptar e dominar, com apoio da CIA, as nações através de seus governos e da opinião pública em nome de um mundo neoliberal baseado no imperialismo dos Estados Unidos. Para a direita, intelectuais marxistas, treinados pela KGB, com ajuda da mídia, dos artistas e dos judeus (pois é!) conspiravam para espalhar o "marxismo cultural" e corroer as instituições sociais, provocando o colapso da sociedade ocidental.


Essas crenças passaram a agir como parâmetros de organização do mundo e do comportamento diante dele, confirmando seus preceitos fundamentais. Afinal, todo adepto de teorias conspiratórias é, também, um intransigente. O "viés de confirmação" faz com que tudo a sua volta confirme a tese na qual ele já decidiu, de antemão, acreditar. Fatos que, na sua opinião, confirmam a teoria, são destacados, ao passo que aqueles que a contrariam são interpretados justamente como estratégia da conspiração para disfarçar o fato de ser uma conspiração. Não há diálogo possível, não há argumentação que o faça (re)pensar, pois tudo e todos passam a ser interpretados a partir da crença na conspiração.


Assim, além da paranoia, a crença em teorias conspiratórias acaba por gerar também uma espécie de conforto, um prazer existencial baseado na ideia de que ele é o único capaz de ver o que os outros não veem, que ele sabe algo que os outros não sabem, e isso é ontologicamente confortante.


No mundo cotidiano, um dos efeitos da adesão a teorias conspiratórias é o apego à família, pois os parentes próximos se tornam os únicos dignos de confiança (vejam o slogan do atual governo). No mundo político, é muito comum que o partido ou facções dele cumpram esse papel, criando militantes obcecados e intransigentes que projetam em todos os adversários a responsabilidade pelos males do mundo (vejam o discurso do antigo governo). Acreditando que todos conspiram contra eles, acabam por adotar comportamentos "preventivos", fazendo reuniões secretas, guardando segredos, montando estratégias de guerra para derrotar os conspiradores... Acabam, enfim, por adotar exatamente os comportamentos que, em seus delírios, projetaram sobre seus adversários políticos.


Eis que, de repente, tudo gira em torno de uma disputa entre o bem e o mal, entre os justos e os injustos, entre os democratas e os autoritários...


E eis que, por acreditarem que no mato só existe porco, de repente estão todos convictos de que até as árvores roncam...

quarta-feira, 3 de abril de 2019

POR QUE CRIAR UM BLOG?


Como bem sabem os que me conhecem, sou avesso às redes antissociais. Sei que podem ter razão os amigos que me dizem que não poderei resistir a elas eternamente. Mas, por enquanto, estou conseguindo, e assim o farei enquanto puder, ou enquanto não houver lei que me obrigue a fazer parte de tal mundo.

Há muitos motivos para minha resistência. Um deles, que aqui tem mais importância, é o fato de prezar pela argumentação detalhada, pelo esforço de levar um argumento ao seu limite, tirando dele todas as consequências. Por isso a preferência por textos mais longos, mesmo sabendo que isso, hoje em dia, é quase uma ofensa para as gerações que julgam ser possível dizer tudo o que há para ser dito sobre as coisas com meia dúzia de gírias abreviadas.

Sei que isso terá um preço. Entre meus leitores provavelmente não estarão aqueles que acham “um saco” ler mais de dois parágrafos. Embora, faço questão de deixar claro, nenhum dos textos aqui disponibilizados será escrito para esse público. Tampouco me preocupam os que gostam de ler o título de um texto e, então, ir direto para os comentários acusar o autor com algum palavrão da moda que, via de regra, não sabem o que significa.

Esse blog é, antes de qualquer coisa, uma forma de dar vasão a ideias e pensamentos sobre uma variedade de temas, em especial aqueles que integram minhas áreas de atuação junto à universidade: teoria política, partidos e instituições políticas, cultura e comportamento. É, também, um recurso metodológico à organização de ideias. Escrever sempre foi, para mim, a melhor maneira de organizar o pensamento.

Se a leitura se mostrar agradável a alguns, isso obviamente servirá de motivação para continuar. Se esse não for o caso, continuarei escrevendo assim mesmo porque, acima de tudo, foi o prazer de escrever que deu origem a esse projeto.