O mundo político sempre foi lugar controlado por gente vaidosa e densamente povoado por bajuladores.
Existem bajuladores, também conhecidos como “puxa-sacos”, de toda ordem. Mas, em geral, são pessoas que apresentam certa dificuldade para conquistar espaço e destaque por meio da competência. Então a bajulação a lideranças, políticas em especial, se torna um substituto relativamente eficiente para galgar espaço e algum status social. Na dificuldade para se destacar pelas próprias capacidades, vincular-se a alguém com projeção e que, de lambuja, pode ajudar o bajulador a ter sua própria visibilidade, aparece como boa estratégia de sobrevivência, inclusive profissional.
Na outra ponta, claro, estão as figuras de destaque. Políticos, empresários, gente famosa e que ocupa alguma posição de prestígio. Especialmente no mundo político, trata-se também de pessoas bastante vaidosas na maioria das vezes. E a combinação entre egos superdimensionados e bajulação sistemática geralmente não produz bons frutos. O casamento entre vaidade e “puxa-saquismo” tende a ser combustível para a incompetência.
Temos, então, de um lado os bajuladores, que dependem das migalhas do poder alheio para sobreviver social, política ou economicamente – ou ambos. De outro, temos as pessoas vaidosas, que adoram bajuladores. Junte-se à equação o fato de que, em geral, bajuladores são incompetentes e você terá uma fórmula que, se não é infalível, tem grande capacidade de retratar a realidade: líderes vaidosos têm tendência a se cercar de gente incompetente.
Embora mais tarde a Igreja Católica tenha juntado a ela a soberba, Tomás de Aquino tomou a vaidade não apenas como um dos pecados capitais; ele a tomou como um pecado especial, de destaque entre os demais. Entre os motivos para isso está o efeito que ela possui sobre a capacidade de percepção da realidade por parte da pessoa vaidosa.
O vaidoso não é apenas alguém incapaz de fazer autocrítica. Ele também tem grande dificuldade para compreender e aceitar a crítica vinda de outras pessoas. Por isso, assim como ama o espelho porque reflete apenas a própria imagem, o vaidoso também ama as pessoas que lhe dizem apenas aquilo que ele gosta de ouvir, aquilo que reforça sua própria ideia de si mesmo, alimentando sua vaidade.
Do ponto de vista dos bajuladores, dizer aquilo que seu “ídolo” gosta de ouvir e que reforça suas convicções sobre o mundo e tudo o que existe nele, passa a ser um investimento. Quanto mais ele faz isso, maior a probabilidade de conseguir os favores de que precisa para compensar o fato de ser incapaz de conquistar as coisas por seus próprios méritos. Sob vários aspectos é um casamento perfeito para as duas partes.
Vivemos em um mundo onde a vaidade é cada vez mais incentivada, valorizada e até mesmo “exigida” socialmente. Uma cultura de supervalorização do “eu”, da subjetividade, do ego. Um dos efeitos disso é justamente o surgimento de gerações inteiras de pessoas cada vez mais vaidosas, apaixonadas pela própria imagem, com ideias superdimensionadas de si mesmas e incapazes de se perceber como iguais aos outros. A vaidade deixou de ser um pecado para tornar-se um estilo de vida, uma exigência no mundo contemporâneo.
Com uma sociedade feita de indivíduos cada vez mais vaidosos, aumenta o “mercado” dos bajuladores, pois temos cada vez mais lideranças de todo tipo ansiosas por incompetentes que dediquem a vida a lhes agradar, dizendo o que querem ouvir e fazendo de tudo para alimentar a imagem distorcida que possuem de si mesmos. E quanto mais o “mercado” de bajuladores cresce, mais espaço é dado à incompetência, especialmente no mundo político.
O resultado de tudo isso? Uma olhada em nossas instituições, do escritório da esquina aos palácios de Brasília, pode dar um bom quadro da situação.
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