Não é nenhuma
novidade que a esmagadora maioria das pesquisas, no Brasil, é feita nas
universidades públicas. Com exceção do presidente da República e do Ministro da
Educação – e outros analfabetos que os têm por “mitos” – é de amplo conhecimento
que também são as universidades públicas que oferecem as melhores formações,
tanto na graduação quanto na pós-graduação.
Tudo bem que vivemos
em tempos em que dados científicos valem menos que feitiçaria e opinião de
bruxos e astrólogos, mas no caso das universidades as evidências são abundantes
demais para serem negadas, até mesmo pelo obscurantismo que orienta o atual governo.
Dados como os que a
Folha de São Paulo divulgou no último dia 07, e que serviram de base para um ranqueamento
das 197 universidades existentes no país, não deixam margem para “interpretações
ideológicas”, mesmo para aqueles que fizeram da destruição das universidades públicas
uma obsessão.
Das 50 primeiras
posições do ranking, apenas sete são ocupadas por universidades privadas. Dessas
sete, quatro são Pontifícias Universidades Católicas – PUCs – (do Rio Grande do
Sul, do Rio de Janeiro, do Paraná e de Minas Gerais). As outras três são:
Universidade Presbiteriana Makenzie, Universidade do Vale do Rio dos Sinos e
Universidade de Caxias do Sul.
Entre as exceções,
portanto, apenas uma não é vinculada ao mundo religioso. Quatro são vinculadas
à igreja católica (PUCs), uma aos jesuítas (UNISINOS), uma a grupo
presbiteriano (Makenzie). A exceção – Universidade de Caxias do Sul – como se
sabe, embora seja uma fundação de direito privado, recebe grande aporte de recursos
do poder público municipal.
Mesmo se expandirmos
a base de análise, ampliando para as 100 primeiras instituições do ranking,
apenas um terço será composta de instituições privadas.
No topo da lista,
nenhuma surpresa. Lá está a USP, tradicionalmente a melhor colocada entre as
universidades brasileiras, também em levantamentos internacionais, feitos com
regularidade. Em segundo lugar, outra estadual de São Paulo, a UNICAMP. O
restante das 100 primeiras, com exceção da UNESP, para indignação do Ministro
da Educação, é todo composto por federais...
Se considerarmos
apenas a produção científica especificamente, o quadro fica ainda mais
evidente: das 100 primeiras colocadas, apenas 13 são privadas. Entre elas, a melhor colocada está em 19° lugar. No quesito “ensino”, são 14 entre as primeiras
100, das quais seis são PUCs.
Mesmo com o
vergonhoso processo de sucateamento em curso, as universidades públicas ainda
são responsáveis por mais de 95% da produção científica do país. Concentra quase a mesma proporção de programas de pós-graduação strictu sensu, especialmente os de
doutorado. Na média geral dos indicadores, as públicas são 43 das 50 melhores
instituições.
Não há feitiçaria
capaz de negar o que os dados evidenciam. São as universidades públicas as
grandes responsáveis pela produção científica, pela pesquisa de ponta, pela
formação qualificada no país.
E não é por falta de “incentivo”
que as instituições privadas não melhoram sua qualidade. Para usar um termo adorado
pelos liberais de meia tigela que sonham “reformar” nosso país, elas têm muitas
“vantagens competitivas”. Dos cofres do governo, tem acesso ao FIES e ao
PROUNI. Indiretamente, a maioria de suas mantenedoras tem incentivos fiscais,
filantropia, acesso a linhas de crédito especiais, apoio de governos locais.
Há muito a ser dito
(e escrito, e pensado, e debatido) sobre o processo de mercantilização do
ensino superior, sobre como ele se transformou em um “filão de mercado”, em uma
“oportunidade de ouro para empreendedores”. Ou sobre as relações pouco
republicanas entre agentes públicos de alto escalão e as corporações
empresarias vinculadas, por exemplo, ao Ensino à Distância. O “mercado” do ensino
superior no Brasil é, sob vários aspectos, uma grande fábrica de diplomas. Mas
disso tratarei em outro texto.
Enquanto as
universidades privadas caminham a passos largos, e conscientemente, para se
consolidarem como fábricas de diplomas, são as universidades públicas que,
mesmo morrendo à míngua, continuam produzindo o que há de melhor no ensino superior
do país. E fazem isso, nunca é demais lembrar, APESAR do governo e das
políticas educacionais, não POR CAUSA delas.
Já passou da hora de
a sociedade brasileira compreender o papel e a importância da ciência, da pesquisa,
do ensino superior. E já passou da hora de reconhecer a importância de quem faz
pesquisa, de quem produz ciência, de quem ensina com qualidade.
Pois é! Enquanto as universidades
privadas, com raríssimas exceções, fabricam e vendem diplomas com a simpatia e
o apoio do governo, são as públicas que, sucateadas, perseguidas e boicotadas
pelo mesmo governo, colocam o Brasil em 23° lugar (Nature Index) entre os maiores produtores de conhecimento
científico no mundo.
Basta de governos
analfabetos a definir o que é educação! Basta de fake news, de mentiras grotescas, de distorção de informações sobre
as universidades públicas e sobre seus professores e estudantes! Basta de
charlatanismo a guiar nossas políticas educacionais! Basta de um Ministro da
Educação se esforçando diariamente para destruir o pouco de excelência que
ainda há na ciência brasileira! Basta de mentiras sobre as universidades federais,
produzidas em massa nos porões do próprio governo e disseminadas por analfabetos
agindo como hordas de imbecis, especializados em criticar o que não conhecem!
Basta de uma elite
nacional que sempre usou as universidades públicas para formar seus filhos, mas
nunca teve a decência para assumir papel de apoio à ciência e a pesquisa, como
se faz no resto do mundo! Basta de uma classe rica que defendia as universidades
públicas enquanto eram os únicos a frequentá-las, e que passaram a atacar essas
instituições quando seus filhos tiveram que dividi-las com os filhos dos
pobres!
Basta de uma
sociedade analfabeta que em vez de lutar para ter acesso à educação superior de
qualidade prefere reproduzir discursos tacanhos que pregam a generalização da
ignorância como política de Estado! Basta de uma cultura da ignorância, que
despreza o conhecimento e se encanta com a possibilidade de comprar um diploma
como se compra um chinelo!
Oi, é bem isso. Belo é importante texto.
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